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O mundo urbano contemporâneo é passível de um olhar antropológico? Frente a essa pergunta, Marc Augé lança-se rumo a uma antropologia do próximo (em contraponto às sociedades exóticas), detectando as particularidades de tal objeto de análise. Segundo o autor, vivemos em um mundo que ainda não aprendemos a olhar: um novo objeto antropológico “prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório e ao efêmero”. Augé cria o termo “supermodernidade” e o define como uma parte da contemporaneidade caracterizada por três transformações básicas ou “figuras do excesso”: a superabundância factual; a superabundância espacial e a individualização das referências. A primeira transposição consiste na mudança da percepção que temos do tempo e do uso que fazemos dele; é fruto do fim da linearidade histórica baseada no progresso da humanidade. A superabundância espacial ou “universos de reconhecimento” é o conjunto de códigos onde tudo é signo – trata-se da proliferação do que chama de não-lugares. Sobre a terceira figura do excesso, escreveu: “[...] nunca, também, os pontos de identificação coletiva foram tão flutuantes. A produção individual de sentido é, portanto, mais do que nunca, necessária”. Frente à crise das narrativas e das utopias que davam formas para o mundo, as histórias individuais ou de grupos ganham voz e força. Acrescenta a conclusão: “Não há mais análise social que possa fazer economia dos indivíduos, nem análise dos indivíduos que possa ignorar os espaços por onde eles transitam”. [...]
Publicado na revista Vivência nº29. Natal: Editora da UFRN, 2005.
ISSN 0104-3064.